Geodiversidade e Saúde: O uso do Caulim na Indústria Farmacêutica.
- anapauladesgeoedu
- 28 de abr. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 13 de ago. de 2024
Quando surge aquela dor de cabeça, logo pensamos em buscar o auxílio de um remédio para aliviar esse mal, em um movimento quase que instantâneo. Isso nos é possível graças às inovações que a indústria farmacêutica trouxe para o mundo, com a descoberta de substâncias capazes de ajudar em nossas enfermidades. Mas você sabia que até nesse âmbito encontramos a Geodiversidade? Alguns compostos minerais servem como matéria-prima e têm papel fundamental nas variáveis formas de medicamentos e cosméticos que encontramos no mercado. Uma dessas matérias-primas é o Caulim e, neste artigo, vamos conhecer um pouco sobre o seu uso na indústria farmacêutica.
De início, é importante entendermos que um medicamento é formado por duas matérias-primas principais: fármaco e excipiente. O fármaco corresponde ao princípio ativo do medicamento, ou seja, o composto quimicamente sintetizado que age no corpo - humano ou animal - promovendo algum benefício. Já o excipiente é o responsável por dar forma a esse medicamento, bem como promover a dosagem adequada do fármaco em cada unidade do medicamento, sem que haja alterações, pois, sua composição é inerte. Com isso surgem os diversos tipos de medicamentos, tais como pomadas, cápsulas, comprimidos, soluções, suspensões, emulsões, cremes e outros. Todos esses utilizam, não apenas técnicas de manipulação e fabricação diferentes, mas também excipientes distintos e, assim, contribuem para resultados que favoreçam a melhor absorção do fármaco pelo corpo, promovendo um melhor resultado.
Uma matéria-prima, de origem mineral, muito utilizada na indústria farmacêutica é o Caulim, rocha de material argiloso, coloração geralmente branca – mas também pode ser encontrada em outras cores –, com baixo teor de ferro, composta por silicatos hidratados de alumínio e que tem a caulinita como seu principal mineral. O Brasil é considerado um dos maiores produtores de caulim, à nível mundial – produzindo cerca de 0,8 milhões de toneladas de caulim por ano –, ocorrendo, principalmente, na Bacia Amazônica e em Minas Gerais.
Imagem 1: Sedimento de caulim branco (à direita); Caulim triturado (à esquerda).

Fonte: Revista De Fato Online
O caulim pode ocorrer de dois tipos: caulim primário e caulim secundário, os quais:
Caulim Primário: Resulta da alteração de rochas in situ, devido principalmente, à circulação de fluidos quentes provenientes do interior da crosta, da ação de emanações vulcânicas ácidas ou da hidratação de um silicato anidro de alumínio, seguida da remoção de álcalis (CETEM, 2008).
Caulim Secundário: Formados pela deposição de sedimentos em ambientes lacustres, lagunares ou deltaicos (CETEM, 2008).
Imagem 2: Jazida de Caulim – Pântano Grande, RS

Fonte: Minérios Santa Bárbara
Independentemente da origem, ele é classificado como um argilomineral por possuir caráter plástico, quando hidratado, e caráter rígido, quando desidratado. Essas propriedades e sua composição química, permitem-no ser usado em diversos tipos de produtos farmacêuticos, seja como fármaco ou excipiente.
Na forma de fármaco, ele atua como agente terapêutico nos medicamentos, ou seja, algumas de suas propriedades têm capacidade de tratar algum tipo de distúrbio ou pacificá-lo. Abaixo veremos alguns exemplos dos benefícios do caulim para saúde humana e animal:
Antiácidos: O caulim promove a redução da acidez estomacal, devido sua propriedade de absorção, bem como consegue neutralizar diferentes ácidos.
Protetores Dermatológicos: Quando usado para esse intuito, o caulim contribui para maior fixação de pomadas dermatológicas que protegem a pele de agentes externos ou que liberam substâncias terapêuticas.
Protetores Gastrointestinais: Atuando como protetor gastrointestinal, algumas propriedades do caulim fazem com que haja um aumento na espessura da mucosa do estômago e intestino, o que resulta em menos possibilidade de ocorrerem irritações e secreções gástricas. Além disso, devido seu poder absortivo, ele tem a capacidade de absorver gases, bactérias, toxinas e vírus, presentes nessa mucosa.
Nesses medicamentos e produtos, o caulim pode estar indicado tanto no verso, como na frente da embalagem, podendo ser identificado simplesmente pelo nome da rocha, por argila ou por algum componente de sua composição química, como por exemplo o hidróxido de alumínio.
Imagem 3: Exemplos do uso do Caulim em medicamentos como princípio-ativo

Fonte: Hypera Pharma; Produíts-veto.
Na forma de excipiente, as propriedades do caulim são importantes e podem desempenhar inúmeros papéis diferentes no produto. Isso impacta especialmente nas diversas formas de uso, mas também pode auxiliar em outros fatores, sobretudo facilitando a absorção do princípio ativo pelo organismo. Vejamos abaixo alguns exemplos da atuação do caulim como excipiente:
Agentes Desintegrantes: Agem facilitando a desintegração do medicamento no estômago e liberando o fármaco no organismo.
Agentes Diluentes e Ligantes: Podem ser usados para diluição do fármaco, garantindo uma dosagem adequada para consumo, na forma de comprimidos sólidos. Isso é possível graças a maleabilidade do caulim, resultando em uma mistura adequada com o princípio ativo e a coesão de partículas.
Aromatizantes: Reduzem o gosto desagradável de alguns medicamentos.
Além disso, o caulim também é muito utilizado em clínicas de estética e, até mesmo, na rotina de skincare de algumas pessoas, na forma de máscaras faciais. Nesse contexto, o caulim é chamado de argila e pode ser encontrado no mercado em diversas cores. A grande variedade de cores se dá devido sua composição e os minerais contidos, por isso, no uso para a pele, cada cor tem a uma função específica.
Imagem 4: Foto de um mineral Caulim

Fonte: Wikipédia
É surpreendente observar a variabilidade de funções que esse material, provindo da natureza, pode desempenhar. Isso só nos mostra o quanto a geodiversidade é abrangente e importante, em níveis, muitas vezes, desconhecidos ou negligenciados, no mundo atual. Por isso, a missão do DESGEO EDU segue firmemente a premissa de levar esses conteúdos a todos, na certeza de que, conforme a visão de Paulo Freire, o conhecimento transforma pessoas e, através dele, as pessoas podem mudar o mundo.
Conheça um pouco mais sobre o Caulim, sua produção e sua utilização em outras aplicações, assistindo o vídeo abaixo:
Referências:
LUZ, A.; CAMPOS, A.; CARVALHO, E.; BERTOLINO, L.; SCORZELLI, R. Rochas e Minerais Industriais – CETEM, 2008. p. 256-260. Disponível em: < http://mineralis.cetem.gov.br/bitstream/cetem/1101/1/12%20CAULIMmar%C3%A7o%20Revisado%20B%20ertolino%20e%20Scorzelli.pdf>. Acesso em: 5 de jan de 2023.
VICTÓRIA, Anderson Magalhães. Recursos Minerais farmacêuticos e cosméticos. Tese (Doutorado em Geologia), Faculdade de Geologia, Universidade Federal da Bahia. p. 2-11. Disponível em: < http://recursomineralmg.codemge.com.br/substancias-minerais/recursos-industria-farmaceutica/>. Acesso em: 5 de jan de 2023.
WILSON, Ian Richard.; SANTOS, Helena de Souza.; SANTOS, Pérsio de Souza. Caulins brasileiros: alguns aspectos da geologia e da mineralogia. Cerâmica. 1998, v. 44, n. 287-288. pp. 118-129. Epub 21 Jun 2001. ISSN 1678-4553. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0366-69131998000400003>. Acesso em: 6 de jan de 2023.