Geodiversidade em Regiões de Transição Ecológica
- Joanna Holanda

- há 4 dias
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O conceito e os estudos sobre Geodiversidade surgiram na última década do século XX. De acordo com Gray (2013), o termo foi utilizado pela primeira vez na década de 1990, durante a Conferência de Malvern, no Reino Unido, quando geólogos e geomorfólogos tratavam sobre a conservação geológica e paisagística.
No Brasil, os estudos sobre Geodiversidade acompanharam a perspectiva mundial tendo se iniciado na década de 1990. Desde então, vários cientistas brasileiros também se envolveram na elaboração de definições. Veiga (1999) apresenta o conceito de Geodiversidade como a expressão das particularidades do meio-físico de uma determinada região geográfica e leva em consideração a litologia, a geomorfologia, o clima, o solo e as águas.
Figura 1: Um inselberg no Ceará, mostrando uma riqueza de rochas e formas menores, como sulcos e pequenas grutas.

Fonte: Prof. Rubson Pinheiro Maia/UFC, [s.d.].
As regiões de transição ecológica, ou ecótonos, são áreas de encontro entre diferentes biomas ou ecossistemas. São áreas de transição ambiental, onde entram em contato diferentes comunidades ecológicas, isto é, a totalidade da flora e fauna que faz parte de um mesmo ecossistema e suas interações. Por isso, os ecótonos são ricos em espécies, sejam elas provenientes dos biomas que o formam ou espécies únicas (endêmicas) surgidas nele mesmo.
As características singulares dos ecótonos fazem com que mereçam atenção especial de conservação: o traço principal é o fato de ser um ecossistema formado entre outros ecossistemas. Tamanho, microclima, recursos de que dispõe e as combinações de espécies são diferentes em cada ecótono, que, por sua vez, são fatores influenciados por clima, altitude, latitude, longitude e tipo de solo.
Ecótonos no Brasil
Um estudo de 2003 realizado pelo IBAMA determinou os três principais ecótonos no Brasil: o Cerrado-Amazônia, que representa 4,85 % do território brasileiro (maior que os biomas Campos Sulinos e Costeiro juntos); o Caatinga-Amazônia, que corresponde a 1,7%; e o Cerrado-Caatinga, com 1,3%.
O ecótono Cerrado-Amazônia está localizado dentro do arco do desmatamento da Amazônia e já perdeu cerca de 60% de sua cobertura florestal. Lá se encontra a maior concentração de matas secas do país. É também habitat de espécies endêmicas, como os saguis, o peixe-boi e o boto-cinza.
Figura 2: Ecótonos na região Cerrado/Amazônia.

Fonte: Portal Amazônia, 2025.
O caráter singular dos ecótonos decorre justamente da influência conjunta de fatores bióticos e abióticos. Aspectos como microclima, disponibilidade hídrica, composição e fertilidade dos solos, variações altimétricas e litológicas criam mosaicos ambientais que favorecem processos de colonização, adaptação e especiação. Dessa forma, a Geodiversidade constitui a base física que sustenta a complexidade ecológica dos ecótonos. Variações na litologia e no relevo condicionam a distribuição de solos e aquíferos, que, por sua vez, influenciam a estrutura e a composição da vegetação. Esses elementos geológicos também afetam a resiliência frente a perturbações antrópicas, como expansão agrícola e mineração.
Assim sendo, a Geodiversidade em regiões de transição ecológica deve ser considerada como patrimônio estratégico para a conservação da natureza. Sua caracterização técnica subsidia o planejamento territorial, a definição de áreas prioritárias para conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais, além de reforçar a necessidade de integração entre políticas de conservação da biodiversidade e da Geodiversidade.
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REFERÊNCIAS:
O que são Ecótonos. ((o))eco, 12 dez. 2014. Disponível em: https://oeco.org.br/dicionario-ambiental/28830-o-que-sao-ecotonos/. Acesso em: 18 set. 2025.
GRAY, Murray. Geodiversity: Valuing and Conserving Abiotic Nature. 2. ed. Chichester: Wiley-Blackwell, 2013. 508 p. ISBN 978-0-470-74215-0.
PEREIRA, Eric Oliveira; AZEVEDO, Úrsula Ruchkys de; ONDICOL, Ramón Pellitero. Modelagem da geodiversidade da Área de Proteção Ambiental Sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte – MG. Geonomos, Belo Horizonte, v. 21, n. 2, p. 97–101, 2013. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/revistageonomos/article/view/11744. Acesso em: 18 set. 2025.
VEIGA, A. T. A geodiversidade e o uso dos recursos minerais da Amazônia. Terra das Águas, Brasília, v. 1, p. 88–102, 1999.




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